Processos erosivos e seu impacto socioeconômico: um estudo no contexto ambiental no bairro Jacu, município de Açailândia-MA

23/04/2013 21:31

            Partindo do pressuposto que diversos impactos gerados ao meio ambiente tem refletidos sobre a qualidade vida do homem focaliza-se os processos erosivos em meio urbano como objeto de estudo deste trabalho, pois estes são reflexos do crescimento desordenado da população sem estudo prévio dos impactos ambientais gerados que se reflete em problemas sócio-econômicos e ambientais configurando em causas sociais que prejudicam a qualidade de vida da população.

            No município de Açailândia-Ma, o risco de erosão está associado à topografia irregular, à condição geológica de formação sedimentar, a precipitação na estação chuvosa, ao aprofundamento dos canais abertos pelo esgoto e a inadequada dos cortes de ruas. Sendo assim, pequenas ravinas evoluem para voçorocas de grandes dimensões, causando desastres, como a derrubada de casas, que se ampliam a cada estação chuvosa Soares, (2008).

            No período chuvoso um grande escoamento superficial acomete a área urbana em decorrência das características da topografia e relevo, assim como, altos índices pluviométricos na região. Esse fenômeno causa alguns problemas sociais urbanos como desmoronamento de residências e algumas marcas físicas no terreno resultante do processo erosivo como é o caso das voçorocas.

            Relacionando as ações antrópicas, Açailândia passou por um processo acelerado de devastação de suas florestas sem estudo prévio que ocasionou o processo erosivo em todo o município, quer seja na zona rural como na zona urbana.

            Observando à zona urbana, o processo parece ser mais destruidor devido ao intenso fluxo migratório na época da formação da cidade, que criou espaços bem diferentes num contexto social.

            As periferias são povoadas de pessoas de pequena formação no que diz respeito à retirada da vegetação das encostas dos morros, assim como, a delimitação das áreas de construção de suas causas.

            Outro problema que atinge o município de Açailândia está no assistencialismo que tem sido um empecilho na solução dos problemas sociais e ambientais. Esse problema é causado pelos os administradores e o empresariado local que distribuem lotes aos segmentos menos favorecido da população com fins eleitoreiros, lotes em locais sem nenhuma estrutura urbana, assim surgem vários bairros em locais inadequados, causando prejuízos para o meio ambiente e para a população. Estes problemas vêm acontecendo desde ano de 1999, devido às fortes chuvas, à falta de manutenção das ruas, ao acúmulo de lixo e aos esgotos a céu aberto.

            Diante desses problemas despertou o interesse de investigar esta situação, objetivando conhecer os processos erosivos e seu impacto socioeconômico que atinge a população do bairro jacu, bem como chamar a atenção das autoridades competentes para a situação dessas áreas, colocando em risco a vida da população.

            A metodologia aplicada nesta pesquisa ocorreu em duas etapas. Estudo teórico e pesquisa de campo. Para o estudo teórico foram utilizados documentos, livros, artigos e sites que relatam os problemas ambientais e geomorfológicos que promovem os processos erosivos no bairro Jacu do município de Açailândia-MA, sendo estes analisados e sintetizados para compor os resultados.

            Na pesquisa campo foram utilizados questionários, direcionados à população local, com pergunta abertas e fechadas, procurando conhecer os problemas ambientais, correlacionando-os com os problemas socioeconômicos, análises das questões ambientais e estudo do impacto ambiental causado pelo aumento da população.

            Açailândia é um município do estado do Maranhão, que surgiu na década de 60, com a construção da rodovia BR-010. Foi fundada em 1981 tem uma população de 106.357 habitantes, segundo os dados de 2006 do (IBGE). Sua densidade demográfica alcança 18,3 habitantes por Km², com área de 5.806.307 km², com um clima equatorial e fuso horário UTC-3. Tem Índice de Desenvolvimento Humano de 0,666 PNUD, de acordo com os dados de 2000 do IBGE; PIB de R$ 822.233.823,00, dados de 2003, PIB per capital de R$ 8.382,27, dados de 2003.

            Iniciou suas atividades econômicas com a extração da madeira, atualmente, o comércio, a indústria moveleira, o pólo siderúrgico, a agricultura e a pecuária são as principais atividades econômicas Soares, (2005). 

            A partir de então o desenvolvimento do município, baseou-se na exploração extrativista de madeira fazendo com que, várias empresas e indústrias viessem para o município. As primeiras indústrias a se instalarem foram a Usina Canguru e Serraria Pica-Pau no ano de 1962 Soares, (2005).

            Nos anos 60, Açailândia cresceu rapidamente. A ocupação desordenada, corte das florestas e a industrialização mudaram a paisagem e trouxeram problemas. Um deles foi erosão que assume proporções dramáticas, as imensas voçorocas vêm avançando contra as ruas e casas e ameaçando boa parte do espaço urbano. As tentativas de controle, feitas pela prefeitura de forma centralizada, não surtiram efeito, indicando que a solução requer nova estratégia, baseada em estudos da origem e natureza do processo erosivo e na adoção de uma gestão urbana compartilhada entre autoridades e a população.

            Percebeu-se que o risco de erosão está associado à topografia irregular, à condição geológica de formação sedimentar, a precipitação concentrada na estação chuvosa, ao aprofundamento dos canais abertos pelo esgoto a céu aberto e à orientação inadequada dos cortes de ruas. Pequenas ravinas evoluem para voçorocas de grandes dimensões, causando desastres, como a derrubada de casas, e ampliando a cada estação chuvosa o número de desabrigados Soares, (2008).

            O primeiro desses desastres ocorreu em 1981, quando 32 famílias tiveram suas casas destruídas e foram transferidas para uma área denominada de Vila Tancredo. Em 1989, ampliada por ‘invasões’, essa vila também já sofria com a erosão. As invasões de terras urbanas estão na maioria dos bairros ou vilas, como partes da vila Tancredo (1985), a Vila Ipiranga (1986) e a Vila Bom Jardim (1988) Santos, (1999).

            Em 1994, após intensas chuvas, os problemas erosivos na periferia da cidade se intensificaram: as voçorocas cresceram, avançando mais sobre ruas e casas, até atingir grandes dimensões. Nos bairros periféricos, essas voçorocas servem, muitas vezes, como depósitos de lixo e área de lazer para as crianças.

            Além de constituir um problema social sério, as voçorocas afetam o precário abastecimento de água de Açailândia, já que a forte erosão transporta grande carga de sedimentos para os dois cursos d’água – o rio Jacu e o córrego Boa Esperança – que circundam a cidade.

            Já o assoreamento, surgiu há pelo menos 20 anos, quando as serrarias começaram a derrubar a floresta exuberante existente nas bordas do planalto cortadas pelos dois cursos d’água. Os locais desmatados serviam como áreas de moradia para a mão-de-obra barata dessas indústrias, sem nenhuma infra-estrutura básica.

            Em Açailândia, o assistencialismo tem sido um empecilho à solução dos problemas sociais e ambientais. A administração e o empresariado local distribuem lotes a segmentos menos da população, com fins eleitoreiros. Surgiram assim as Vilas Capelosa, no final dos anos 80, e em época recente a Vila Ildemar.

            A cobertura vegetal original é oriunda de mata ombrófila (árvores de mesma altura), reduzia a velocidade do escoamento superficial. A floresta atenuava os efeitos dos agentes diretos de formação de ravinas e voçorocas, também limitadas pela formação de húmus, que garantia a estabilidade do solo ao elevar o teor de agregados. A vegetação original está descaracterizada: o corte de espécies de valor econômico, as derrubadas para a formação de pastagens, o avanço da agricultura e a produção carvoeira mudaram a paisagem Soares, (2008).

            O clima é marcado por temperaturas altas e um regime tropical de chuvas, com uma longa estação seca e outra com chuvas abundantes, concentradas nos meses de janeiro, fevereiro, março e abril. Essa concentração leva à formação de crostas na superfície do solo, que aumenta o volume e a velocidade do escoamento superficial. A composição sedimentar do solo, o excesso de chuvas em poucos meses e a retirada da cobertura vegetal tornaram o relevo altamente suscetível à erosão Soares, (2008).

            O bairro Jacu localizado na região noroeste da periferia da cidade de Açailândia, surgiu na década de 80, está próximo dos limites periurbanos da cidade, iniciando-se às margens da Rodovia Belém-Brasília. Apresentam-se com inúmeros pontos indicativos do desordenamento ambiental, como presença de moradias próxima da mata de galeria, depósitos do lixo e muitas áreas degradadas com presença de ravinas e voçorocas.

            O bairro inteiro não apresenta rede de esgotos. Dessa forma, as ruas apresentam-se continuamente irrigadas por canais de esgotos a céu aberto que provocam mau cheiro que pode contribuir para provocar doenças e afetar no aspecto sócio-econômico.

            Baseado nos dados da FUNASA (1992 apud Pedron et. al., 2008) a disposição do lixo e o esgoto urbano são vetores para propensão de doenças, como ancilostomíase, ascaridíase, amebíase, cólera, disenteria bacilar, esquistossomose, estrongiloidíase, febre paratifóide, salmonelose, teníase e muitas outras.

            O riacho Açailândia passa nas proximidades do bairro, sendo que, nas ruas Juazeiro, Uruguai e Gonçalves Dias, corre próximo ao fundo das casas. O mesmo recebe uma quantidade considerável de lixo e esgoto provenientes das residências.

            A maioria da população residente no bairro é de baixa renda, sendo que, muito vieram em busca de moradia barata, por causa da oportunidade de ganhar um terreno e ter sua casa própria

            Ao estudar a degradação ambiental ocorrida pelo escoamento superficial e a erosão no bairro Jacu, in locu foram selecionadas aleatoriamente algumas áreas afetadas. Fez-se uso de GPS (Modelo Garmin E-trex) e câmera digital (Sony S70) para fotografar e marcar os pontos com coordenadas geográficas no intuito sistematizar a pesquisa.

            Os pontos selecionados estão entre as partes mais afetadas pelo processo erosivo, nas ruas e encostas dos córregos. Também foram vistos áreas de deslizamentos e construções impróprias, características de um crescimento desordenado do bairro, como também, áreas afetadas pelo problema do lixo e o assoreamento.

            Por fim, foram pesquisados moradores locais, selecionados de modo aleatório fazendo de uso de um questionário com 10 perguntas com opções pré-estabelecidas onde se buscou analisar a interação dos mesmos com os problemas sócio-ambientais do bairro correlacionado com os problemas socioeconômico.

            Ao analisar as imagens fotográficas, a pesquisa realizada com os moradores, pode-se constatar que o desencadeamento do processo erosivo em todo bairro, deu-se pelo crescimento desordenado, sem planejamento urbano de suporte para região.

            As características de solo e o relevo do bairro Jacu traçam um perfil de um sítio urbano favorável e condições naturais que induzem facilmente ao surgimento de erosões. O relevo configura-se como um dos influenciadores, assim como a fragilidade do solo diretamente dependente da vegetação que tinha suporte físico (fixação e absorção) e biológico (proteção e ciclagem). Seus solos são arenosos e argilosos.

            Considera-se que a necessidade da implantação de plano de educação ambiental, junto à população do bairro Jacu, deve partir da escola com programas educação e conscientização  associado aos temas transversais, de maneira interdisciplinar, associado os problemas locais ao currículo dos alunos.

            Tendo em vista o caso do bairro Jacu é de caráter de urgência a intervenção dos órgãos públicos, no sentido de interditar áreas próximas dos riachos e usar meios artificiais, como curvas de nível, terraciamento, barreiras de contenção no intuito de conter os processos erosivos.

            É sabido que muitos dos córregos que permeiam o bairro Jacu têm grande importância econômica para todo município, e que o crescente assoreamento, ocasionado pela erosão, é um fator preocupante, pois reduz o fluxo de água, comprometendo, desta forma, o seu estado perene.

            A intervenção pelos órgãos de serviço social e saúde na região deve estar presente nas ações de combate as doenças provenientes do lixo e esgotos urbanos a céu aberto, quanto aos níveis de desigualdade social, criar moradias alternativas no intuito de remover residências a mercê de possíveis deslizamentos deve ser colocado como um ícone primordial.

            Todavia, um planejamento ambiental adequado deve ser implantando no bairro de modo que envolva toda comunidade, buscando metodologias voltadas para a gestão ambiental participativo envolvendo prefeitura, associações, comunidades, ONGs entres outros, no intuito de buscar soluções condizentes com a realidade local.

 

Texto retirado da Revista Educaçao Ambiental em Ação, ISSN 1678-0701, Número 31, Ano VIII.

 

Autores:

Zilmar Timoteo Soares

Licenciado em Biologia Pela Universidade Estadual do Maranhão, e Doutor Em Educação Pela Wisconsin International University USA.

Hallan   Jefferson Santos Nobre.

Licenciado em Biologia pela Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão

Jorge Augusto Silva da Silva

Licenciado em Biologia pela Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão